Tem uma coisa que gosto mais do que zumbis: antiheróis. O Fábio diz que na realidade eu gosto de malaco e acabo mostrando isso com minha preferência por filmes de gangsters e afins, mas a verdade é que o que gosto em histórias desse tipo é que elas (quase) sempre fogem do maniqueísmo simplório, mostrando personagens mais bem desenvolvidos do que os que sempre lutam pelo bem ou pelo mal. Aquela coisa, uma chance de mostrar o humano e toda sua complexidade.
É por isso que fiquei tão curiosa sobre a nova série da HBO, Boardwalk Empire. Por isso e por Steve Buscemi, tenho que dizer – há qualquer coisa nele que sempre chama minha atenção, mesmo que o currículo do ator não tenha só filme bom. E de lambuja o primeiro episódio foi dirigido por Martin Scorsese, então você acaba querendo conferir sem grandes enrolações, certo?
Assistindo ao primeiro episódio (Boardwalk Empire) você chega a pensar como é que perde tempo com tanta coisa so-so que tem passado na tv hoje em dia. A qualidade da série é superior em todos os aspectos: o elenco, o roteiro, o cuidado com cenários e figurinos, a trilha sonora. Tudo. É impecável (embora eu ainda ache que teremos os chatos que procuram pelo em ovo e vão falar de problemas de anacronismo e o diabo a quatro, mas bem, eles são uns chatos).
A série é baseada no livro de Nelson Johnson, Boardwalk Empire: The Birth, High Times, and Corruption of Atlantic City (título comprido, ahn?), embora com algumas mudanças propositais para afastar do público a relação com outro trabalho do mesmo roteirista, The Sopranos (que eu nunca vi por uma bizarrice que um dia ainda vou contar aqui, hehe). O foco principal é Enoch “Nucky” Thompson, que passa a aproveitar o começo da Lei Seca nos Estados Unidos, mas agindo de forma mais mascarada, andando nos dois lados: ora o bom moço que prega contra a bebida na frente de senhoras, ora o sujeito que consegue enxergar na Lei Seca uma oportunidade de fazer mais dinheiro.
As personagens ao redor acabam servindo ou de combustível para as ações de Nucky (como a história de Margaret Schroeder e o marido violento) e outras figuras históricas completam o retrato (um jovem Al Capone, por exemplo). E o legal é que mesmo as personagens secundárias acabam recebendo um bom tratamento, e por isso as histórias se cruzam e funcionam como em uma engrenagem perfeita.
Adorei o que vi nesse primeiro episódio e pretendo continuar assistindo os demais – serão 12 no total para essa temporada, e a segunda já está garantida por causa do enorme sucesso na estreia. Eu só espero que não aconteça como com Roma (cuja qualidade caiu um monte no segundo ano), e continue mantendo esse excelente nível.